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Insights e Narrativas

Novas lentes e novas narrativas para uma liderança (r)evolucionária [ 3 / 4 ]

  • Foto do escritor: Mariangela Gomes
    Mariangela Gomes
  • 4 de jul. de 2024
  • 5 min de leitura

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Foto de James Bold na Unsplash



Em nossos artigos anteriores ("É preciso dar um salto evolutivo no jeito de liderar" e "Precisamos olhar com mais humanidade para o que é estar na pele de um líder"), vimos que as histórias que a gente vem contando sobre liderança ainda são carregadas de mitos sobre atos heróicos, poder e autoridade; ainda refletem estilos, perfis, competências e modelos que vêm sendo construídos com base em pressupostos universais, de um ambiente industrial, orientado para preservar a estabilidade, a escala e a previsibilidade.


Acontece que esses pressupostos universais estão sendo desafiados, uma vez que vemos um aumento crescente dos níveis de sobrecarga, exaustão e insatisfação no mundo do trabalho. E, quando olhamos o ato de liderar a partir desses padrões e pressupostos, deixamos de compreender todas as suas nuances, pluralidades e contradições. 


Essas lentes nos levam a restringir a liderança a um conjunto de competências, papeis e responsabilidades quando, na verdade, liderar é um um fenômeno humano, social, distribuído e multifacetado, que emerge dos contextos, interações e dinâmicas socioculturais. Um fenômeno em constante transformação, influenciado pelas mudanças econômicas, sociais, culturais, ambientais e tecnológicas; que precisa ser compreendido na sua relação interdependente ao contexto e às relações em que emerge e opera. 


Por isso precisamos de novas lentes e novas narrativas que capturem a essência do que é liderar, questionando e rompendo com tudo aquilo que não cabe mais. E porquê narrativas? Porque acreditamos que precisamos contar novas histórias sobre o que é liderar, desconstruindo o modelo mecanicista de gestão, e construindo um entendimento de que liderar é um ato que vai se construindo a partir de uma série de eventos e experiências intrínsecas às relações socioculturais e ao contexto em que ela acontece. Entendemos que precisamos passar a contar novas histórias que tragam novas perspectivas sobre o que é estar na pele da liderança e não apenas sobre o que é estar nesse papel.


Nosso convite, neste artigo, é trazer algumas perspectivas para ampliar o nosso olhar sobre o que é estar na pele da liderança pela perspectiva de um fenômeno, ou seja, compreender como o ato de liderar se manifesta em sua essência e como as pessoas a percebem, interpretam e a vivenciam no dia a dia. Isso requer olhar mais apurado sobre as dinâmicas culturais, sociais e simbólicas que permeiam e moldam o ato de liderar nos diferentes contextos. 


LIDERANÇA É UM FENÔMENO HUMANO

Liderar é um ato essencialmente humano que se constrói nas relações. Mas num mundo de incertezas, de desafios desestabilizantes, de decisões difíceis, de mudanças rápidas e constantes e de alta pressão por resultados, é fácil perder de vista a humanidade por trás da liderança (e da organização). 


Estar na pele da liderança significa reconhecer que liderar é um ato que se dá na relação entre seres humanos (quem lidera e quem segue). Implica ainda reconhecer que, atrás do papel de líder há uma pessoa, com toda a complexidade de suas responsabilidades, interações, interdependências, além das pressões que enfrenta e das emoções que experimenta. É olhar com humanidade e reconhecer toda a carga cognitiva, emocional e relacional que a liderança exige. 


LIDERANÇA É UM FENÔMENO SOCIOCULTURAL

Diferentes grupos sociais definem o que significa liderar no seu contexto, onde, suas normas, valores, rituais, símbolos e crenças desempenham um papel crucial na construção da identidade e das expectativas que as pessoas trazem sobre quem reconhecem seus e suas líderes. É o contexto onde a liderança emerge que molda como o poder é distribuído, exercido e percebido dentro daquele grupo. 


Estar na pele da liderança significa reconhecer que ela não pode ser vista ou entendida de forma fragmentada e isolada do contexto em que emerge e das pessoas que dão sentido ao ato de liderar. É na interação sociocultural que se molda o como a liderança se estabelece, como ela é vivenciada, percebida e legitimada. 


LIDERANÇA É UM FENÔMENO COMPARTILHADO

A liderança ainda é percebida como um papel ocupado por uma pessoa, que está no centro da ação e decisão, alguém que detém poder e autoridade (formal ou informal). Ainda esperamos que os líderes sejam infalíveis, capazes de resolver e ter as respostas para todos os problemas que surgem. Mesmo cercado por uma equipe, a responsabilidade final, ainda, recai sobre quem está neste papel. 


Estar na pele da liderança significa reconhecer que liderar é um ato coletivo, que se constrói na relação entre diferentes agentes que cocriam significado e ação, na busca por objetivos comuns. Implica entender que todas as pessoas são dotadas da capacidade de liderar e mudar a realidade à sua volta. 


LIDERANÇA É UM FENÔMENO INTERCONECTADO À 'SEGUIDANÇA'


De acordo com Barbara Kellerman (professora da Harvard e autora de vários livros), não há líder sem ao menos um seguidor. Acontece que todos os holofotes estão sempre direcionados e centrados no(a) líder, trazendo uma perspectiva completamente descolada de quem a segue. 


Estar na pele da liderança significa entender que liderar é um ato inseparável, indivisível e impossível de se conceber sem a relação entre quem lidera e quem segue. É quem segue que sustenta, apoia (ou sabota) e legitima quem está em um lugar de liderança. 


LIDERANÇA É UM FENÔMENO DE PROSPERIDADE E REGENERAÇÃO

Não há dúvidas que estamos diante de crises ambientais e climáticas que demandam ações urgentes e imediatas. E aqui não estamos falando apenas das ações de ESG. Acontece que isso ainda não é visto, genuinamente, como prioridade na agenda dos líderes (em todos os níveis).


Estar na pele da liderança significa reconhecer que liderar é um ato ecossistêmico, que reconhece a interdependência entre sistemas sociais, ecológicos e econômicos, buscando soluções que gerem prosperidade, para o negócio, para as pessoas e para o planeta. Liderar implica o comprometimento com a criação de um futuro melhor para todos, criando e sustentando sistemas que se renovam e se fortalecem mutuamente ao longo do tempo.


LIDERANÇA É UM FENÔMENO DE (R)EVOLUÇÃO

Na narrativa evolutiva da biologia vivemos momentos contínuos de adaptação e crescimento, um processo que garante a sobrevivência e a prosperidade em um mundo em constante evolução. 


Estar na pele da liderança significa reconhecer que liderar é um ato (r)evolucionário. Todos os movimentos de evolução e de revolução  ao longo da história da humanidade foram, e continuam sendo, impulsionados por atos de liderança, ou seja, por pessoas com coragem de questionar e romper com o status quo, transformando o presente e contribuindo para a construção de um negócio e uma sociedade, mais próspera, mais humana e mais justa para todos


Quando ampliamos nosso olhar, somos capazes de questionar as crenças, pressupostos e narrativas que vêm moldando, até aqui, a nossa visão sobre o que é liderança. Só assim somos capazes de ressignificar, reconfigurar e coconstruir novos jeitos de liderar. Nos permite ir além de um conjunto universal de responsabilidades ou competências para compreender como as pessoas, grupos e organizações entendem, constroem e vivenciam a liderança em seus respectivos contextos. Nos permite reconhecer os trabalhos cognitivos, relacionais, políticos e emocionais que envolvem o ato de liderar.


Aqui na Polline, acreditamos que receitas prontas ou 'os 5 passos para…' não são mais suficientes para dar conta dos desafios de liderança. Se quisermos buscar por novas formas de pensar e agir como líderes precisamos olhar para todas as dinâmicas sociais, culturais e organizações, precisamos ter um olhar mais apurado sobre o 'como as coisas são feitas por aqui'. 


escrito por Mariangela Gomes


>>> Conta aqui pra gente, que histórias e narrativas de liderança estão sendo contadas e reforçadas em suas organizações? 





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